Negócios.pt | CRISE NA RESTAURAÇÃO “Tememos janeiro e fevereiro ainda piores”, diz Ana Jacinto

Em entrevista ao Negócios.pt, a secretária-geral da AHRESP fala sobre as perspetivas para os negócios do canal HORECA: até ao final do ano, no contexto das festas, é natural que a procura se mantenha, mas a subida dos custos pressiona as margens e os preços para os clientes não podem estar sempre a aumentar, avisa a secretária-geral da AHRESP. O maior problema vem depois, no início de 2023

Neste período ainda há o subsídio de Natal, mas quando chegarmos a janeiro o poder de compra dos portugueses ainda vai sofrer mais e nós seremos os primeiros a sofrer o impacto

“Quando se abrirem as garrafas de champanhe, na passagem para 2023, é possível que a restauração ainda não sinta em força todos os efeitos da crise. Só que Ana Jacinto, secretária-geral da AHRESP, receia que o início do ano, tradicionalmente difícil para o setor, possa trazer notícias mais graves do que o habitual, incluindo mais encerramentos.

A restauração tem sentido uma quebra depois do verão, segundo o último inquérito da AHRESP ao setor. Espera que o final do ano seja diferente, em especial o Natal?

É sempre complicado olhar para os próximos dias – já nem digo para mais tarde – porque tudo muda a uma velocidade enorme. Mas posso dizer, porque temos ouvido os nossos associados, que para a época das festas há uma procura mais acentuada. […]

A AHRESP tem feito várias reivindicações e, entretanto, o Governo aprovou o OE 2023. Que balanço faz?

O Orçamento e o acordo de rendimentos têm medidas importantes, algumas delas defendidas pela AHRESP, e não podemos deixar de as reconhecer: a majoração em 50% dos custos com a valorização salarial, o incentivo à capitalização das empresas, o apoio para o regresso ao mercado de trabalho de desempregados de longa duração. São medidas relevantes, mas não equilibram o nosso esforço.

O que é que ficou de fora que teria sido importante?

Baixar o IVA dos serviços de alimentação e bebidas para a taxa reduzida – melhorando a tesouraria das empresas – e reduzir a TSU das entidades empregadoras. […]

Se a atual conjuntura continuar, teme encerramentos em breve?

Tememos. Aliás, temos vindo a assistir já a alguns encerramentos, só que neste setor são silenciosos. Não contaram para a estatística. Só nos que derivam de processos judiciais e em que há insolvências decretadas é que apuramos que estão encerrados. Mas muitos metem um letreiro à porta a dizer “encerrado para férias” e, se calhar, não abrem mais. Tememos evidentemente, se não houver uma atenção a todas estas questões, que seja muito difícil às microempresas resistirem. E também depende da duração da inflação e da guerra. É bom não esquecer que janeiro e fevereiro são sempre meses muito difíceis para os nossos setores e tememos que este ano ainda sejam piores. Neste período ainda há o subsídio de Natal, mas quando chegarmos a janeiro o poder de compra dos portugueses ainda vai sofrer mais e nós seremos os primeiros a sofrer o impacto. […]

O que espera que aconteça nos próximos tempos? Ou não vai acontecer nada [face à escassez de trabalhadores]?

Tem de acontecer, necessariamente, para bem de todos. Nós podemos passar por muitas transições digitais, que são importantes, mas não substituem as pessoas. A AHRESP tem várias propostas nessa matéria. Desde logo, é urgente uma campanha de dignificação destas profissões, que estava a ser preparada antes da pandemia. Esta nunca é uma profissão de eleição pelas famílias quando têm filhos a estudar e se perguntarem a um pai ou uma mãe provavelmente não querem que o filho seja empregado de mesa. Uma parte tem que ver como salário – e é importante que continue a subir -, mas não é só isso. Socialmente, estas categorias não estão Aser reconhecidas. Talvez a única profissão que tenha dado um salto qualitativo foi a de chefe de cozinha. […]

Tem-se falado na semana de quatro dias e o Governo vai avançar com um projeto-piloto. Isto faz sentido para pelo menos algumas empresas da restauração ou é muito difícil de pôr em prática?

Num momento em que estamos a fazer um esforço tremendo para atualizar salários, em que estamos a tentar levar por diante o acordo de rendimentos – que obriga as empresas a fazer um esforço tremendo, dada à conjuntura atual -, esse tema não pode ser discutido agora, é impensável. Porque é um tema difícil, porque trabalhamos 24 horas por dia. Nós estamos a pedir um esforço enorme às empresas, temos falta de trabalhadores e, ao mesmo tempo, andamos a discutir a semana de quatro dias? Não é possível. Temos de ter alguma calma, porque pedir tudo isto às empresas de um momento para o outro é impensável – as empresas fecham as portas. ”

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