Beatriz Santos, Presidente do Grupo de Setor de do Grupo de Setor do Campismo, Caravanismo, Hotelaria de Ar Livre e Parques Temáticos

Responsável por mais de seis milhões de dormidas anuais em território português, a Hotelaria de Ar Livre, campismo, caravanismo e parques temáticos, encara presentemente a evolução dos perfis de utilizadores, cada vez mais segmentados e exigentes, o que obriga à criatividade e inovação por parte dos agentes desta atividade turística. Beatriz Santos conta como se faz face aos novos desafios no Grupo de Setor da AHRESP a que preside.

©Nuno Martinho
“O setor de Hotelaria de Ar Livre merece ser considerado pelas entidades responsáveis pela promoção de Portugal enquanto destino Turístico”, salienta Beatriz Santos. Na foto, com Luciano Abrantes e Jorge Pessoa, representantes da Hotelaria de Ar Livre na AHRESP, por ocasião da Tomada de Posse da Direção, em 2018.

Texto Luís Carlos Soares | Fotos Nuno Martinho

Como é que o Campismo, Caravanismo e Hotelaria de Ar Livre têm vivido esta época de proveitosa atividade turística em Portugal? Os números em constante crescendo também se verificam neste subsetor?

A realidade deste setor, atestada pelos números, confronta-nos na verdade com um cenário de estabilidade da procura, o que, aliás, revela uma grande capacidade de adaptação do setor às mudanças, nomeadamente no que toca à evolução dos perfis de utilizadores, cada vez mais segmentados e exigentes, a par de uma concorrência crescente multifacetada, requerendo criatividade e inovação constantes em termos de produtos e serviços disponíveis na Hotelaria de Ar Livre. Assiste-se, isso sim, a um crescendo de utilizadores de caravanas e autocaravanas, cada vez mais luxuosas, em detrimento dos utilizadores de tendas, isto no que toca a clientes com equipamento próprio, a par da preferência por produtos mais sofisticados como o aluguer de Mobile-Homes e Bungalows, produtos “chave na mão”, oferecendo todas as comodidades da vida moderna.

Existem novos desafios que se têm apresentado neste subsetor? Há novas exigências por parte dos visitantes, que obriguem a novos investimentos?

Sem dúvida nenhuma que somos hoje em dia confrontados com novos paradigmas. Longe vão os tempos da imagem do campista com a sua tenda à sombra de uma árvore, sob o chilrear dos passarinhos, para passar umas férias descansadas. Na atualidade, falamos de turismo ao longo de todo o ano, a pretexto de todo o tipo de eventos, com os turistas a exigirem muito mais, para além da beleza imaculada dos espaços de natureza, incluindo a sua preservação. Chegam a questionar se é ou não feita uma gestão sustentável dos recursos, nomeadamente requerendo informação sobre a existência de práticas de reutilização ou reciclagem, ao mesmo tempo que impõem novos padrões de conforto, muitas vezes preferindo reservar online uma tipologia de acomodação topo de gama, não dispensando a tecnologia, nomeadamente a disponibilização de wi-fi, bem como programas de animação diversificados. Evoluem os conceitos, aumenta a segmentação da procura e crescem os investimentos a todos os níveis, desde as ferramentas tecnológicas aos canais de distribuição, passando pela diversidade e sofisticação de produtos, incluindo o entretenimento, para todas as idades, desde as mais diversas atividades de recriação até às experiências gastronómicas e visitas culturais.

As entidades responsáveis pela promoção de Portugal enquanto destino turístico, costumam destacar a relação qualidade-preço da hotelaria tradicional. Gostaria de ver os atributos da hotelaria portuguesa de ar livre merecerem tratamento semelhante?

Não há razão nenhuma para que assim não seja e só talvez o preconceito e desconhecimento da realidade por parte de alguns afete por vezes tal desiderato. Utilizando uma imagem que é tão cara à AHRESP, o nosso património gastronómico é riquíssimo e muito diversificado. Pois bem, o mesmo se passa com a oferta hoteleira e quem avalia a relação qualidade-preço são os clientes. Na Hotelaria de Ar Livre, tal qual como na dita hotelaria tradicional, também há oferta sofisticada e produtos de elevado valor acrescentado, veja-se o Glamping, de que se fala muito ultimamente. Todos nós, enquanto consumidores, fazemos as nossas opções, muito variadas em função de múltiplos factores, por exemplo, do momento, dos objetivos, procurando sempre obter experiências gratificantes. E, para além de tudo o mais, à nossa escala, com mais de seis milhões de dormidas por ano, o setor de Hotelaria de Ar Livre merece ser considerado e deve ser respeitado, a começar pelas entidades responsáveis pela promoção de Portugal enquanto destino Turístico.

Preocupações e desafios

Apesar do bom momento turístico, há sempre obstáculos a contornar. Quais são as principais preocupações e reivindicações atuais do campismo e caravanismo português?

Para além das preocupações que não são exclusivas da Hotelaria de Ar Livre, destaca-se, em primeiro lugar, a concorrência desleal e, pasme-se, por vezes até da parte de entidades com responsabilidades a nível da gestão pública, nomeadamente autárquica, certamente com múltiplas vocações que não a de se substituirem aos empresários com atividade legal e contribuição efetiva para a economia, incluindo a criação de emprego e o pagamento de impostos ao Estado. Em segundo lugar, a frequente inoperância das entidades fiscalizadoras, nos casos de campismo selvagem e de apropriação do espaço público de forma abusiva, com prejuízos vários, nomeadamente ambientais, potenciando situações muito graves ao nível da segurança e desprestigiando a imagem da atividade turística em Portugal.

Como é que o Grupo de Setor do Campismo e Caravanismo da AHRESP tem trabalhado para fazer face a essas preocupações?

Naturalmente que fazer face concretamente às preocupações que acabo de enunciar obedece a uma estratégia de atuação contínua, que lidera a nossa agenda, nomeadamente no que diz respeito ao trabalho junto das entidades competentes, a par de acções informativas e de sensibilização direccionadas a grupos específicos e a opinion makers.

Uma das principais preocupações atuais da AHRESP é a formação de profissionais qualificados para trabalhar no setor. O subsetor que representa também faz eco desta necessidade?

Claro que sim. Estamos a falar de fórmulas que na atualidade se caracterizam nomeadamente pela mão-de-obra intensiva e, como tal, é essencial garantir a qualificação dos recursos humanos. Nos últimos anos, temo-nos debatido com a escassez de oferta formativa adequada, sobretudo nos níveis intermédios, mas, além disso, a situação tem-se agravado, já que, muitas vezes, nem sequer é uma questão de qualificação e sim, pura e simplesmente, de falta de pessoas para trabalhar. E não é por acaso que a automação (permitindo o auto-serviço), bem como a inteligência artificial (já presente no atendimento, nomeadamente online), também já chegaram à indústria de hospitality, na qual se inclui o alojamento, os transportes e outros. A realidade está a mudar velozmente e a exigir um esforço de inovação cada vez maior aos empresários.

Reconhecimento europeu

Este ano foi nomeada vice-presidente do principal órgão europeu representativo do campismo e caravanismo. Que missões e responsabilidades acarreta este novo cargo?

A eleição como Vice-Presidente da EFCO&HPA para o biénio 2018-2020, depois de alguns anos a integrar o Comité Executivo, significa o reconhecimento do nosso contributo enquanto AHRESP e obviamente comporta uma responsabilidade acrescida de participação e representação, exigindo ainda maior disponibilidade, mas a missão é a mesma: continuar a trabalhar a nível nacional e a nível europeu em defesa dos interesses dos empresários que representamos.

Quais são as vantagens da proximidade às autoridades da União Europeia que esse novo cargo permite? Como poderá utilizar essa proximidade para defesa dos interesses do setor do campismo e caravanismo português?

A integração num orgão com o peso da representatividade de 23 países, como é o caso, confere legitimidade e poder, que se traduz nomeadamente no direito a emitir opinião informada em matérias de interesse para o setor, sobre as quais a Comissão Europeia se debruça. Tal reconhecimento, verifica-se, por exemplo, na participação ativa, ou no acompanhamento enquanto observadores, de grupos de trabalho, cujos outputs são susceptíveis de influenciar a nossa atividade. Este posicionamento permite ter um nível de conhecimento que, obviamente, facilita o trabalho de articulação a nível nacional, nomeadamente junto de comissões parlamentares, por especialidades, inclusive quando se trata de se pronunciarem sobre propostas de regulamentos ou diretivas europeias, acabando estas por ser obrigatoriamente transpostas para a legislação nacional.

Desafios para a Hotelaria de Ar Livre

Beatriz Santos identifica as três principais realizações a desenvolver no novo mandato como Presidente do Grupo de Setor do Campismo, Caravanismo, Hotelaria de Ar Livre e Parques Temáticos da AHRESP:

– Cooperação de proximidade com as entidades oficiais, a nível central e local, trabalhando para uma adequada regulamentação e fiscalização da atividade;

– Identificação e ativação de parcerias úteis ao desenvolvimento e modernização das empresas do setor;

– Potenciação da elevação da imagem da atividade de Hotelaria de Ar Livre, contribuindo para a melhoria da sua perceção, nomeadamente através de ações de informação / formação junto de grupos de referência, incluindo campanhas e outras ações de marketing no âmbito da responsabilidade social e ambiental.

 

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