António Trigueiros de Aragão: “Criar valor turístico no interior” 

António Trigueiros de Aragão, confesso apaixonado pelas suas origens, a Beira Baixa, pela beleza e potencial da região, fez uma incursão no seu percurso como empresário na área do Turismo. Como gerente da sociedade que adquiriu há quase dois anos o Balneário Termal das Águas de Monfortinho, no concelho de Idanha-a-Nova, aposta claramente numa unidade que, mais do que uma infraestrutura de exceção, está localizada numa zona fulcral para a entrada de turistas no país.

Texto Inês Maia e Silva | Fotos e vídeo Nuno Martinho

Há 10 anos, dos ativos inseridos no Grupo Espírito Santo, no Concelho de Idanha-a-Nova, Distrito de Castelo Branco, faziam parte as icónicas Termas de Monfortinho, a poucos metros da fronteira com Espanha. “Apanhado” no meio de um ciclo do mercado financeiro em que muitos desses ativos ficaram disponíveis para venda, o Balneário Termal viria a ser adquirido por uma sociedade de investidores da região, gerida por António Trigueiros de Aragão. Um envidamento de esforços que o empresário justifica pela “qualidade da infraestrutura, pela região em que se insere e por todo o potencial que justifica este investimento”.

A abordagem foi, primeiramente, “agarrar no imóvel, na exploração, melhorá-lo e mantê-lo: queremos conhecer a atividade e estar por dentro de tudo antes de nos abalançarmos em grandes projetos.”  E a aposta está ongoing: toda a envolvente do complexo do Balneário foi tratada, desde os equipamentos, aos jardins, ao desmatamento até ao rio que separa naquele ponto Portugal e Espanha. Ou melhor, que aproxima os dois países, uma vez que Monfortinho tem o potencial para ser a mais privilegiada porta de entrada de Espanha através do centro do país. Com uma autoestrada direta de Madrid até poucos quilómetros da fronteira, só falta mesmo a tão almejada ligação da zona à A23 para estreitar o corredor que leva a região ao litoral do país.

©Nuno Martinho Com a nova gestão, toda a envolvente das Termas de Monfortinho foi tratada, com melhoramentos ao nível dos equipamentos jardins e desmatamento da circundante até ao rio.

Depois dos melhoramentos da infraestrutura do Balneário Termal e da envolvente, qual o próximo passo?

Demos mais vida e condições a tudo o que aqui está: o espaço à volta está maravilhoso e bem tratado. O próximo passo é pensar no futuro e conseguir extrapolar todos estes ativos que estão inseridos numa região com um potencial gigantesco, paredes meias com Espanha, que é do outro lado do jardim do Balneário Termal. De Monfortinho, a poucos quilómetros, temos uma autoestrada direta a Madrid, região que tem um Produto Interno Bruto superior ao de Portugal. Ou seja, temos a infraestrutura, a água e toda a envolvente paisagística, que é um verdadeiro oásis. Vamos ter que saber potenciar isto tudo, há muito a fazer e temos um projeto enorme para desenvolver.

O Turismo de Saúde pode ser conotado com um público-alvo envelhecido. Em termos de conceito, como concebe a atratividade da unidade?

Há 60, 50 ou 40 anos, as famílias passavam um mês nas termas, e usufruíam não apenas dos benefícios da água, mas também de uma série de ofertas lúdicas, como festas, concertos, um usufruto completo da envolvente. Esse aspeto lúdico foi-se perdendo e as termas continuaram com os seus utentes/clientes clássicos muito ligados aos benefícios da água para a saúde. Penso que esse contexto se está a reverter completamente: continuamos com o nosso público clássico, mas começa a aparecer uma nova geração que procura as termas pela questão dos benefícios da água para a saúde e corpo, mas também pelo contexto paisagístico e oferta de turismo natureza do espaço em que as termas se inserem, que é fabulosa. E é essa faixa de turistas que queremos captar.

Esse é o argumentário para captação de novos targets, em termos de infraestruturas que investimento está previsto?

O grupo já tem uma infraestrutura excecional que se chama Balneário Termal das Águas de Monfortinho, a região tem infraestruturas também excecionais em termos de parques naturais, oferta de restaurantes para um complemento de uma estadia e, neste momento, estamos a assistir a uma mudança em Monfortinho: há grandes hotéis que passaram também por um período de mudança e estamos na expetativa do que vai acontecer, como é que esses hotéis vão ser recuperados e postos à disposição de todas essas famílias e utentes/clientes (portugueses, espanhóis, franceses), e como é que vamos  expor essas estruturas às novas gerações no contexto de tudo o que referi há pouco. Neste momento, está tudo em evolução, sendo certo que os argumentos de turismo natureza, saúde e gastronomia constituem uma oferta muito completa e atrativa.

Quais são os públicos-alvo diretos?

Portugueses e espanhóis: Madrid está a duas horas e meia daqui. Monfortinho poderia ser uma das grandes entradas de Portugal, pois tem uma entrada direta para a zona centro de Portugal, nomeadamente para Castelo Branco, Fátima, Santarém, Peniche ou Nazaré. Qualquer espanhol que esteja em Madrid, que queira surfar na praia que tem as melhoras ondas do mundo, o melhor caminho que tem é aqui por Monfortinho. Será esse o nosso público principal, mas por aqui entram também franceses, ingleses, o novo turismo com caravanas e temos que saber acolher e adaptarmo-nos a estes turistas. Depois poderá haver outro tipo de turistas, como os nórdicos, que valorizam muito o turismo natureza e os benefícios das termas e, quer queiramos quer não, o nosso inverno é ameno. Esses são alvos que também temos que atingir no futuro.

Estruturas têm que dar condições aos profissionais

A sazonalidade é uma barreira difícil de vencer no interior no que toca à fixação de recursos qualificados?

Eu vejo a questão da seguinte forma: se pensarmos num negócio clássico, que é completamente sazonal, que em três meses de verão pode ter overbooking, e durante o resto do ano taxas de ocupação muito reduzidas, claro que essa situação cria dificuldades acrescidas: porque é que um profissional está aqui para trabalhar três meses e não vai para outro lado onde pode trabalhar 365 dias por ano? A grande questão não se põe nos profissionais, mas nas estruturas que temos que criar que têm que proporcionar condições às pessoas que lá trabalham. Temos que vencer a sazonalidade, conseguir ter os meses de verão com grande preenchimento dentro da atividade que temos, mas há que puxar pela imaginação, pela técnica e por tudo o que é conhecido, para tornar esta infraestrutura apelativa e ter uma taxa de ocupação rentável durante o ano todo para que tenhamos o ano inteiro profissionais e suas famílias com condições para viver aqui e fixarem-se no interior. Esta região é maravilhosa e tem todo o tipo de oferta ao nível das infraestruturas de saúde, escolas, para quem se queira estabelecer aqui. Temos que oferecer boas condições de trabalho e a primeira de todas, é proporcionar um trabalho contínuo e não três meses por ano. Neste momento temos 25 pessoas nas Termas de Monfortinho, abrimos no inverno, e é obvio que ainda temos muito pouca ocupação, mas nós suportámos isso para dar condições aos que cá trabalham, para não ter que os dispensar e dar um sinal ao mercado de que as coisas estão a mexer e que há um movimento diferente na região.

E a questão da rentabilização?

Seja das Termas ou dos hotéis da região, temos que conseguir rentabilizar o ano todo, não só do ponto de vista financeiro, mas do ponto de vista da atividade do dia a dia para darmos condições às pessoas.

Criar turismo significa unir os atributos do interior e litoral… e exportar

António Trigueiros de Aragão é Administrador da Lusitana (que detém conhecidas marcas de produtos alimentares, como a ‘Branca de Neve’ ou a ‘Espiga’), Presidente da Assembleia-Geral do InovCluster – Cluster Agroindustrial do Centro e da Caixa Agrícola da Beira Baixa. Falou com a AHRESP na qualidade de Gerente da Sociedade detentora do Balneário Termal das Águas de Monfortinho, mas quando questionámos a forma mais adequada de o apresentar, não hesitou: “Enfim, sou um ‘beirão’ que luta por uma região”.

É de um entusiasmo contagiante quando refere a sua vida quotidiana, que se divide entre “o triângulo dourado do centro de Portugal” que é Lisboa, Castelo Branco e Coimbra. “O nosso país é tão pequeno que dá perfeitamente para conseguirmos fazer o match destas regiões todas. Sou perfeitamente contra haver fronteiras entre regiões: estamos numa zona de transição para o litoral e todos os atributos que esta região tem devem-se unir aos do litoral… e exportá-los! Temos que fazer chegar a mensagem a Espanha de que temos uma zona que liga Madrid diretamente à maior onda do mundo, que liga a Fátima, ao Gótico de Santarém: isso para mim é que é criar turismo, fomentar grandes corredores de fluxo e circulação, e não zonas completamente espartilhadas.”

 

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